Ambiente Regulado e Decisões Complexas: a Nova Demanda sobre Escritórios Jurídicos
Vivemos uma era marcada por transformações profundas. A tecnologia avança em ritmo acelerado, a crise climática impõe mudanças estruturais nas economias e a sustentabilidade passou a moldar decisões estratégicas em praticamente todos os setores. Ao mesmo tempo, observamos uma reconfiguração de forças no cenário geopolítico, o redesenho das cadeias produtivas e um reposicionamento das relações humanas diante de novos modelos de trabalho, como o híbrido, o remoto e o presencial em constante transição.
Nesse contexto de alta complexidade, o ambiente de negócios no Brasil enfrenta um desafio adicional: o aumento contínuo da pressão fiscal e regulatória, que compromete a competitividade de empresas nacionais. A recente declaração de Liliana Aufiero, CEO da Lupo, de que “o Brasil empurrou a gente para o Paraguai”, ao comentar os obstáculos enfrentados para manter a produção no país, expõe com clareza uma tendência crescente entre empresários que buscam alternativas para sobreviver e seguir investindo.
Essa realidade exige um novo posicionamento da advocacia empresarial. Escritórios que atuam junto a empresas de médio e grande porte precisam ir além da entrega técnica. Hoje, o cliente espera uma atuação que compreenda o seu negócio, antecipe riscos e proponha soluções viáveis, consistentes e compatíveis com a realidade regulatória e operacional. A confiança é construída a partir dessa presença estratégica e da capacidade de transformar conhecimento jurídico em decisões que geram valor e sustentabilidade no longo prazo.
A tecnologia, por sua vez, já ocupa um lugar central na reorganização dos serviços jurídicos. Ferramentas de automação, análise de dados, jurimetria e inteligência artificial ampliam a escala da atuação e aumentam a previsibilidade. No entanto, essas inovações só entregam resultados quando integradas a um pensamento jurídico maduro, crítico e orientado por propósito. O diferencial não está na tecnologia isolada, mas na maneira como ela é utilizada para fortalecer a relação com o cliente e aprimorar a tomada de decisão.
Em paralelo, os departamentos jurídicos corporativos evoluíram. O que se espera do escritório parceiro não é apenas resposta rápida ou conteúdo preciso, mas clareza na comunicação, modelos de trabalho eficientes, alinhamento estratégico e postura colaborativa. A atuação jurídica de alto impacto, hoje, é aquela que contribui para a governança da empresa, dialoga com as demais áreas internas e acompanha as transformações de mercado com capacidade analítica.
É importante reconhecer que os desafios não são poucos. Muitos escritórios ainda operam sob modelos que já não se sustentam, presos a estruturas hierárquicas rígidas, avessos à inovação e distantes da linguagem de negócios. A resistência à mudança é, muitas vezes, interna e não externa. Mas o caminho está posto. Escritórios organizados, com governança sólida, cultura orientada ao cliente e abertura para o novo, têm espaço para liderar essa transição.
A advocacia empresarial está sendo convocada a ocupar um papel mais relevante na tomada de decisões que moldam o futuro das organizações. Isso exige domínio técnico, sim, mas também sensibilidade institucional, compreensão estratégica e compromisso com a entrega de valor real. Em um país onde ainda é difícil empreender, proteger juridicamente um negócio vai muito além de garantir o cumprimento da norma. É assegurar que ele possa continuar existindo, crescendo e contribuindo com a sociedade de forma legítima e sustentável.